Desde o
fundo em janeiro de 2018 o dólar subiu frente ao real mais de 30%. O dólar
futuro saiu de R$ 3,12 para R$ 4,12, no momento em que escrevo. Talvez o dólar
americano seja o ativo mais difícil de ser previsto. Mesmo especialistas
renomados proferem previsões equivocadas. Comento a seguir algumas ponderações
relevantes:
1 = A
cotação da moeda americana é um “consenso mundial”. Ela não é determinada pelos
players locais. O aumento da moeda americana em 2018 foi generalizado. O
aumento significativo do “Dólar Índex”
comprova isso, haja vista que esse índice é a relação do dólar americano frente
a uma cesta de moedas internacionais. Veja o gráfico a seguir. Vários analistas tentam
explicar o movimento de alta, mas nem sempre a explicação é óbvia. Não obstante
a isso, alguns fatores me chamam a atenção. Primeiro, a economia americana
continua com maior força em relação aos demais mercados globais, especialmente
ao europeu. Segundo, no início do ano um membro do governo americano “sugeriu”
que a economia americana poderia se beneficiar de um dólar mais fraco. Daí,
investidores globais apostaram fortemente na queda. Como ela não ocorreu e o
dólar começou a subir, esses investidores foram “estopados” nas suas operações
(eles optam por encerrar a transação no prejuízo, evitando perdas maiores) e,
consequentemente, isso acelerou o movimento de alta. No jargão do mercado esse
movimento é chamado de “short squeezing”. Por último, a
guerra comercial deflagrada por Donald Trump em 2018 fortalece ainda mais a
moeda americana.
2 = A taxa
de câmbio no Brasil é livre desde o ano de 1998. O Banco Central atua nos
momentos de estresse, mas seu poder é muito limitado, ao contrário de que
muitos pensam. O mercado global é muito mais poderoso do que qualquer banco
central.
3 = Um
ataque especulativo mais intenso ao real, a princípio, é menos provável, e isso
se deve a alguns motivos: o Brasil tem uma considerável reserva cambial
(cerca de 370 bilhões de dólares); a maior parte da dívida do Governo Federal é
interna, não dolarizada; e, atualmente, a balança comercial não gera déficits
importantes. Posto isto, o Brasil possivelmente não viverá momentos de “caos cambial”
como os ocorridos recentemente na Argentina e na Turquia.
4 = Todavia,
as eleições no Brasil agravam o cenário do câmbio. Como a situação fiscal no
Brasil continua muito delicada, o meio que o mercado financeiro encontra para
se proteger é através do câmbio e dos juros futuros. Ambos dispararam nos
últimos meses. Somente para vocês terem uma noção, enquanto a Taxa Selic está em
6,5% ao ano, os juros futuros para 2025 estão em 12,2%. Quase o dobro! Isso
mostra o atual pessimismo dos operadores do mercado financeiro com a economia
brasileira, especialmente pelo gigantesco déficit fiscal das contas públicas.
Após essas
colocações, qual o cenário do dólar mais provável para os próximos meses?
Acredito que o viés continue de alta e a volatilidade deve aumentar
consideravelmente, pelo menos até o pleito eleitoral. Se elegermos um
presidente “reformista”, a moeda tenderá a recuar no médio e longo prazo
(caminhará para os três reais), haja vista que a economia local vai se
recuperar e o cenário externo também deverá ajudar nesse sentido. Em
contrapartida, a ascensão de algum candidato da esquerda nas pesquisas
eleitorais ou mesmo a eleição de um deles pode fortalecer ainda mais o dólar frente
ao real. Neste cenário, alguns economistas sugerem que o dólar pode bater a
casa dos sete reais ou mais. O que fazer? Como sempre, mantenha uma parte de
seu portfólio atrelada diretamente ao dólar americano.
MJR
* As opiniões postadas no blog são apenas posições do autor sobre o tema, e não constituem em si, recomendações de compra ou venda de ativos.