quarta-feira, 26 de março de 2014

A esquizofrenia do mercado de ações


Se hoje, dia 26 de março, fecharmos no azul será o oitavo pregão seguido de alta na Bovespa. Haja otimismo! Mas... Otimismo com o quê? Será que...

A inflação está controlada? A Taxa Selic vai cair? O PIB vai subir? O otimismo dos empresários voltou? A economia brasileira está acelerando? A crise energética foi superada? O ministro da Fazenda foi demitido? A balança comercial melhorou? O FED desistiu de retirar gradualmente o programa de estímulo da economia americana? A S&P voltou atrás sobre o rebaixamento do rating do Brasil? As incertezas políticas estão solucionadas? A Dilma vai perder a eleição? A tempestade perfeita era só uma marola? Será?...

Infelizmente, todas as respostas acima são negativas. E mesmo assim, a bolsa está subindo mais de 8% em apenas 8 dias. Então, o motivo deve ser outro: as ações brasileiras estão baratas e os investidores voltaram com apetite? Não se engane. Muitas ações estão realmente baratas, mas a alta recente não me convence. A queda da moeda americana também. O dólar somente não subiu forte pela constante intervenção do BACEN (uma hora as reservas cambiais, fonte do dinheiro, secam). Não existe fundamento algum nestes movimentos. A explicação é só uma: especulação!

Tudo o que sobe, cai. Esta é a regra. Quanto mais rápido for a alta, pior será a queda. Como já comentei, o Mercado é maníaco-depressivo. Exagera tanto no pessimismo quanto no otimismo. Nos últimos meses quase tudo era motivo para a bolsa cair. Qualquer notícia, boa ou ruim, a bolsa brasileira desabava. Agora, mesmo com o cenário ainda pior, a bolsa fez um forte movimento de alta... No mínimo suspeito!

É verdade que o mercado financeiro caminha no mínimo 6 meses na frente da economia atual. Sempre será assim. Porém, mesmo pensando num horizonte mais distante, o cenário continua o mesmo: desolador! Bastaram alguns boatos de que a Dilma cairia numa pesquisa eleitoral para o mercado se animar (o que não se confirmou). Até agora tudo não passa de especulação!

Não caia no conto do vigário, o cenário ainda é nebuloso. Estamos vivendo um mero repique. Turbulências pesadas estão por vir e um novo teste da faixa dos 45 mil pontos é o caminho mais natural. Esta é a visão da maioria dos especialistas que não padecem de distúrbio psiquiátrico. O que fazer? Opere protegido (com hedge), até você vislumbrar sinais mais confiáveis na economia brasileira. 

MJR

domingo, 16 de março de 2014

Guia Prático do Tesouro Direto


Os títulos públicos federais possuem a finalidade de captar recursos para o financiamento da dívida pública, bem como para financiar as atividades do Governo Federal, como saúde, segurança, educação e infraestrutura. São emitidos pelo Tesouro Nacional e oferecem rentabilidades variadas. São considerados pelo mercado como títulos de baixíssimo risco de crédito.

O Tesouro Direto (TD) é um programa do Tesouro Nacional do Governo Federal em parceria com a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), criado em janeiro de 2002 com o intuito de facilitar o investimento da população em títulos emitidos pelo governo federal. Anteriormente, a população somente podia comprar títulos indiretamente através de fundos de investimentos baseados nestes títulos. Desde então, é possível adquirir estes títulos de maneira fácil e segura, através da internet.



Pré-requisitos
Ser cidadão brasileiro, ter CPF, e abrir uma conta em algum agente custodiante, ou seja, abrir uma conta numa corretora ou num banco credenciado pela CBLC (no site do TD você encontra todos os agentes credenciados). De uma maneira geral este procedimento é bastante rápido, sem grandes aborrecimentos. Sugiro que você faça no seu próprio banco, facilitando o controle, porém verifique a taxa de administração!
Outro fator limitante é o valor mínimo a ser aplicado que atualmente (2014) é uma fração de 0.1 do valor do título – até o ano de 2011 a fração mínima era 0.2, ou seja, somente era permitida a aquisição de frações pares, nunca impares. Desde junho de 2012, o limite máximo mensal permitido para compras passou de 400 mil para um milhão de reais por CPF.

Taxas
São duas as taxas que incidem sobre o TD. A primeira refere-se à taxa cobrada pelo agente custodiante (taxa de administração) que varia de acordo com o agente. De uma maneira geral esta taxa é baixa e está disponível aos investidores no site do TD. Assim podemos comparar as diversas taxas cobradas (entre 0 e 1,0%). A taxa pode ser anual (mais comum) ou por operação. A segunda é a taxa de custódia cobrada pela CBLC / BM&F Bovespa para guardar os títulos e pagar as despesas relativas às negociações, a custódia e os custos administrativos. A taxa de custódia é de 0,30% ao ano. Ela é provisionada diariamente a partir da liquidação, sendo cobrada de forma pró-rata (relativa aos dias efetivados usados), semestralmente, sempre no primeiro dia útil dos meses de janeiro e julho. Valores inferiores a dez reais são acumulados para uma futura cobrança.

Curiosidade!
Até 2012 existia a taxa de negociação que era cobrada pela CBLC na compra ou venda dos títulos do TD, correspondendo a 0,1% sobre o montante.

Compras programadas
Desde junho de 2012, o TD passou a oferecer o direito de compras programadas de títulos, inclusive para o reinvestimento dos cupons semestrais, que veremos em breve. Antes da extinção da taxa de negociação existia um incentivo a esta prática, com uma redução desta alíquota de 0,10 para 0,05%, a partir da terceira compra.

Imposto de Renda (IR)
A Lei nº 11.033 de 21 de dezembro de 2004 alterou a tributação incidente sobre as operações dos mercados financeiro e de capitais, incluindo as alíquotas de Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) incidentes sobre os rendimentos do Tesouro Direto. De acordo com a redação legal, as alíquotas são válidas a partir de 1º de janeiro de 2005.
A tributação é semelhante aos fundos de renda fixa e, portanto, depende do tempo de permanência da aplicação. Investimento com período inferior a 180 dias, paga-se 22,5% de IR sobre o rendimento; entre 181 dias e 360 dias, 20%; entre 361 e 720 dias, 17,5%; e para mais de 720 dias, o percentual é de 15%.
Assim, como nosso objetivo no tesouro direto é uma aplicação rentável, segura e de longo prazo, a alíquota será de 15% para investimentos acima de dois anos.

Fique de olho!
Há também a incidência de IOF para vendas com prazo inferior a 30 dias, como ocorre nos fundos de investimentos, CDB, etc.

Rendimento
Nos títulos do TD o rendimento é previamente conhecido (renda fixa), basta que respeitemos rigorosamente o prazo de vencimento do mesmo.
Exemplos: nas Letras do Tesouro Nacional (LTN) a taxa de retorno é pré-fixada, atualmente (março de 2014) entre 12 e 13%; nas Letras Financeiras do Tesouro (LFT) o retorno é indexado à SELIC, hoje em 10,75%; nas Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B) o rendimento é misto: uma taxa de juros pré-fixada, em torno de 6,5% ao ano, acrescida da inflação (IPCA).
Desta forma, aqui temos uma grande vantagem do TD sobre outros produtos: o conhecimento prévio do rendimento futuro, além do que o investimento em NTN-B tem rendimento real, ou seja, acima da inflação.

Principais características dos títulos disponíveis:

Podem ser títulos prefixados, pós-fixados ou mistos (parte da remuneração é prefixada e a outra pós-fixada), sendo que os dois últimos podem ser vinculados à Selic, ao IPCA ou ao IGPM (desde 2006 o Tesouro Nacional parou de emitir títulos vinculados ao IGPM – Notas do Tesouro Nacional, série C – apenas os recompram as quartas-feiras). Veja as principais características de cada título:

Letras do Tesouro Nacional (LTN)
São títulos pré-fixados (taxa de juros conhecida ao investir) e de médio prazo, atualmente com vencimento em 2017 ou 2018. Não pagam cupons semestrais: o valor aplicado e os juros serão pagos exclusivamente no vencimento do título. São boas opções quando o viés da taxa Selic é de estabilidade ou de queda. Em períodos de alta da Selic (ou expectativa de alta), estes títulos sofrem deságio em caso de venda antecipada, como veremos em breve.
Gosto muito destes títulos para aplicações de médio prazo (3 a 5 anos), especialmente na atual situação de 2014, pois os juros são atrativos e não temos mais uma perspectiva de alta vigorosa da Selic. Entretanto, como ainda é provável mais aumento da Selic, o mais interessante seria aguardar um pouco mais para garantir um juro ainda maior.  

Notas do Tesouro Nacional Série F (NTNF)
Também são títulos pré-fixados, porém com vencimento mais longínquo (atualmente em 2025) e pagando cupons semestrais (juros).
Não gosto destes títulos, pois acredito que temos melhores opções.

Letras Financeiras do Tesouro (LFT)
Teoricamente são os títulos mais conservadores, pois são indexados exclusivamente à Selic. Não sofrem ágios ou deságios bruscos. Têm vencimento de médio prazo (2017).
Numa analogia, funcionam como os fundos DI e, portanto, são indicados em períodos de incerteza sobre a taxa Selic.

Notas do Tesouro Nacional Série B (NTNB)
São títulos mistos (pré e pós-fixados) e geralmente com vencimento mais longínquo (até 2050). Como são títulos vinculados à inflação, tem a garantia de um ganho real, acima da inflação. São os títulos mais indicados para a aposentadoria. 
As NTNB “puras” pagam juros semestrais. Já nas NTNB Principal não há pagamento dos cupons semestrais: os juros são “reinvestidos” automaticamente e não pagamos IR de maneira antecipada.
Portanto, para os pequenos investidores que não precisam de rendimentos periódicos e têm como objetivo a aposentadoria, estes últimos são os títulos mais indicados. Deixe os juros compostos trabalhar por você!

Fique de olho!
Hoje, março de 2014, uma hipotética aplicação de 100 mil reais em NTNB principal com vencimento em 2035, numa inflação média estimada em 5% ao ano, o valor previsto para o resgate em 2035 é de cerca de 1 milhão de reais. Isto mesmo, 10 vezes o montante aplicado... Sem estresse, sem burocracia e com baixo risco!

Títulos mais curtos ou mais longos?
Não é uma resposta fácil, pois os mais curtos são menos voláteis, porém os mais longos pagam um juro maior. Se o seu objetivo é a aposentadoria, opte pelos mais longínquos. Em outras situações, talvez o ideal seja fazer uma cesta com títulos de médio e longo prazo. 

Liquidez
Outra vantagem importante do TD é a liquidez. Às quartas-feiras, das 9 horas da manhã até às 5 horas da manhã do dia seguinte – exceto naqueles dias em que coincide com a reunião do COPOM, onde a compra é postergada para a quinta-feira – o Tesouro Nacional recompra os títulos a preço de mercado, garantindo assim, a total liquidez destes ativos. Portanto, se após o investimento, você precisar vender os títulos, não será uma tarefa difícil. Mas fique atento, pois nestes casos o Tesouro Nacional recomprará seu título no valor de mercado do dia e não pelo valor pré-acordado (marcação a mercado – veja o conceito em breve).

Títulos disponíveis
A tabela seguinte mostra a oferta de títulos públicos federais no dia 28 de fevereiro de 2014 no site do TD. Na primeira coluna temos o nome do título, o código e o fator de correção; na segunda temos o vencimento; na terceira a taxa de juros (ao ano) e na quarta o valor de mercado para compra naquele dia.



Abaixo, os títulos ofertados em 14 de março de 2014:





Fique de olho! A oferta e o valor dos títulos, bem as taxas de juros, podem oscilar a cada dia, de acordo com as perspectivas do mercado.

Afinal, os títulos do Tesouro Direto são títulos de renda fixa ou variável?
A princípio os títulos do TD são considerados pelo mercado financeiro como títulos de renda fixa. Entretanto, esta premissa somente é válida para quem compra o título e os mantém durante todo o tempo de contrato até o vencimento. Em caso de venda antecipada, o título será recomprado pelo Governo a preço de mercado, com ágio ou deságio. Confuso? Isto ocorre principalmente em virtude da expectativa e da oscilação da taxa básica de juros. Com a recente alta da Selic (2013/2014), os juros pagos nos títulos do TD subiram significativamente. Desta forma, quem comprou os títulos em 2012 terá um prejuízo em caso de venda antecipada, pois a taxa de juros naquela época era bem menor, assim houve um deságio no valor do título. O inverso também é verdadeiro: em períodos de queda da Selic os títulos ficarão mais caros (ágio). Por estes aspectos comentados, podemos considerar que os títulos do TD podem ser de renda fixa, se respeitarmos o prazo de vencimento, ou de renda variável, caso haja uma venda antes do prazo. Veja abaixo um comparativo entre os preços dos títulos em 2012 e 2013.





Fique de olho! As Notas do Tesouro Nacional Série B (NTNB) com vencimento em 2035 tiveram uma “valorização absurda” entre 2011 e 2012 em virtude da queda da Taxa SELIC, atingindo mais de 40%. Por outro lado, estes mesmos títulos despencaram em 2013 em virtude da escalada da Selic.

Marcação a mercado
Vários fatores econômicos influenciam na precificação dos títulos públicos: a expectativa futura da Selic (o principal fator), a previsão inflacionária e a relação entre a oferta e a demanda, dentre outros.
É sempre bom lembrar que está embutido no valor do título um prêmio de risco, assim, os títulos mais longos carregam maior risco e, portanto, maior prêmio.

Pagamento e recebimento
Títulos comprados até às 5 horas da manhã serão liquidados no mesmo dia, ou seja, você precisa estar com o dinheiro disponível na conta neste dia (D0, dia zero). Após este horário as compras serão liquidadas no dia seguinte (D1). É importante salientar que o cliente que não tiver os recursos disponíveis no dia acordado, é considerado inadimplente e será punido. A punição inicial é a suspensão por 30 dias para compras de títulos no tesouro direto. A reincidência gera suspensões mais longas até a suspensão completa.

Após alguns dias úteis os títulos estarão disponíveis na sua conta, mas antes aparecerá no extrato que os títulos estão em liquidação. Ao vencimento do contrato, você receberá em sua conta corrente, o resultado final da operação, já acrescido dos juros e descontados o imposto de renda e as taxas.

Cupons semestrais
Para as pessoas que necessitam de renda extra e periódica, alguns títulos do TD pagam juros semestrais (cupons), como as NTNB “puras” e as NTNF. Já para os outros títulos, o pagamento ocorre apenas no vencimento, como nas LTN e nas NTNB Série Principal. Se você não necessita deste rendimento semestral, opte pela NTNB Principal, pois o resultado no longo prazo será melhor (juros sobre juros e você não pagará IR antecipadamente). 

Onde comprar os títulos
As compras podem ser feitas diretamente no site do tesouro nacional ou através do site da corretora, no caso dos agentes integrados. É importante verificar com seu agente custodiante (corretora ou banco) qual a maneira que está disponível. Numa das corretoras que tenho conta, a compra só é permitida através do site da própria corretora. Em outra, os dois modos são permitidos.

Importante!
Ao optar pela compra direta no site da sua corretora, compare com os preços ofertados pelo site do tesouro. Pequenas diferenças podem ocorrer!

Mensagem final
A aplicação em títulos do Governo Federal é uma excelente opção de investimento com horizonte de longo prazo e, portanto, deve fazer parte da carteira de investimento de qualquer pessoa, especialmente em momentos como os atuais, onde a taxa Selic está alta e a taxa de remuneração também. Estas oportunidades serão cada vez mais raras!

MJR

domingo, 9 de março de 2014

Dow Jones e Bovespa: momentos decisivos, situações opostas!


Estamos próximos do dia D para as bolsas americana e brasileira. É verdade que em situações completamente opostas. Desde 2012, com o descolamento do IBOV em relação ao Dow Jones (DJI), enquanto lá estamos próximos ao topo histórico, aqui estamos flertando com o fundo dos últimos cinco anos (veja os gráficos: o primeiro uma correlação entre o IBOV e o DJI; o segundo o gráfico mensal do DJI e o terceiro o gráfico mensal do IBOV).

O que podemos esperar destes índices nas próximas semanas?





No DJI, o mais provável é um recuo: mesmo com os bons números da economia americana e das empresas listadas na bolsa, uma correção me parece o caminho mais provável. Segundo especialistas, a bolsa de Nova Iorque está cara e uma correção é salutar: os ativos vivem em ciclos... O megainvestidor George Soros já fez sua aposta: 1,3 bilhão de dólares no mercado futuro que o índice americano S&P vai cair. Ele não costuma errar!

Aqui, uma previsão mais convicta está difícil. A bolsa brasileira está barata. Algumas boas ações nem se fala. Porém, os indicadores econômicos nacionais continuam péssimos e, pior, as expectativas para o ano de 2014 são desanimadoras e a desconfiança dos investidores é total!

Pelos gráficos, temos dois caminhos para o IBOV no curto prazo:

1. Respeitar o suporte em 44/46 mil pontos e recuperar parte dos enormes prejuízos desde a máxima de 2010 em 72 mil pontos (queda de quase 40%). Quais os objetivos? 50 mil pontos pela média móvel de 21 períodos do gráfico semanal e 56 mil pontos pela máxima de 2013

2.
  Perder o forte suporte e buscar outro patamar para o fundo do poço.

Qual o caminho mais provável?
 

Pelo gráfico diário, desde outubro de 2013, estamos num canal de baixa e agora num triângulo descendente, que é uma figura baixista (veja gráfico abaixo). 



Por outro lado, o índice e várias ações já demonstram sinais de cansaço pelo forte recuo dos cinco meses. Assim, acho que a chance de uma recuperação do IBOV no curto prazo é um pouco maior. Porém, é preciso respeitar o forte suporte!

Compare a situação atual do IBOV com o gráfico de julho de 2012 (veja gráfico abaixo). A situação era semelhante e naquela época, rompemos o triângulo para cima com forte volume financeiro, numa bela recuperação.




Conclusão: Como o cenário ainda é incerto, devemos operar o mercado de ações com bastante cautela. A melhor opção é ficar posicionado numa boa carteira de ações, aproveitando os preços atraentes, porém protegidos (vendidos) por operações no mercado futuro. Após sinais gráficos mais convincentes, podemos retirar gradualmente o hedge em caso de alta, ou aumentá-lo em caso de queda. E para quem está fora do mercado? Aguarde mais um pouquinho: ótimas oportunidades à vista... Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.
 MJR

domingo, 2 de março de 2014

A Copa, os Protestos e a Democracia.


Apesar de ser fanático por futebol, até 2013 sempre fui contra a realização da Copa no Brasil. Por alguns motivos: a incompetência do Governo Federal, a corrupção generalizada no Brasil e a falta de infraestrutura no país. Não estávamos e não estamos preparados para tal evento. Outra coisa: tínhamos outras prioridades! Porém, chegado o ano de 2014, não sou mais contra, pois a Copa esta aí. Não adianta espernear: o país do futebol receberá a Copa, portanto temos que aproveitar a oportunidade. Vejam algumas ponderações:

Desde a confirmação do Brasil como sede da Copa de 2014, em outubro de 2007, estamos batendo cabeça. O orçamento já estourou há muito tempo: todos os estádios ficaram mais caros que o previsto. Pelo menos dois deles ainda correm o risco de ficar fora da Copa, por obras inacabadas. As outras melhorias na infraestrutura foram tímidas e estão em andamento. Alguns estádios foram construídos onde sequer o futebol é profissional: uma decisão política do Ex-Presidente Lula, totalmente equivocada. Estes estádios virarão “elefantes brancos”. Assim, o chamado legado da Copa ficou para uma próxima oportunidade. Muita promessa e pouco resultado!

Para complicar a situação surgiram os protestos populares. Não sou contra as manifestações, aliás, elas são fundamentais para sedimentar nossa jovem democracia e garantir o direito constitucional de liberdade de expressão. Mas tudo tem limite. O que estamos assistindo de camarote são manifestações violentas e fora do controle da polícia. Somente agora, após a morte de um jornalista, atingido por um rojão durante uma manifestação no Rio de Janeiro, a Presidente Dilma resolveu atacar o problema com mais ênfase. Porém, acho que a decisão veio tarde demais.

Em qualquer país civilizado, as regras para as “reuniões populares”, como diz a nossa Constituição, são bem caracterizadas e os limites são claros. No Brasil, por lei, existem apenas dois limites: uma manifestação não pode atrapalhar outra previamente agendada e é vedado o anonimato nos protestos. Isso mesmo, os mascarados são proibidos, mas nas ruas, o que vemos é uma situação bem diferente... Na Alemanha, por exemplo, as manifestações precisam ser comunicadas as autoridades policiais com 48 horas de antecedência e é terminantemente proibido o anonimato, o que permite a ação imediata da polícia. Inclusive, por lá, o controle policial sobre a passeata é total. Ou seja, manifestar é permitido, vandalismo e quebra-quebra não. Outra coisa, retirar o direito de ir e vir das outras pessoas também não é permitido. Quebrar o patrimônio público ou privado é motivo de prisão. O controle através de monitoramento com câmeras é fundamental.


Por último, tenho convicção de que os protestos deveriam ter ocorrido em 2007, logo após o anúncio da FIFA, e não agora. Assim, bilhões de reais não seriam desperdiçados. Com as tardias manifestações, perderemos duas vezes: além do dinheiro que foi embora pelo ralo, muitos turistas que pretendiam visitar o Brasil possivelmente estão repensando sua viagem. Tudo isso comprova que a escolha da FIFA foi equivocada. A Copa será realizada, contudo não terá o mesmo brilho de outros eventos. Tensão, baderna e desorganização não combinam com um evento esportivo deste porte. Espero estar errado e que a Copa ocorra em paz, pois para quem gosta de futebol, não tem evento mais mágico e saboroso. 
MJR