terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Bovespa na UTI (e o país também)



Não há sinais de vida. Não há reação a estímulos. Um paciente moribundo.

Nem a boa recuperação dos mercados internacionais no dia de hoje conseguiu mudar o estado da bolsa brasileira. Apatia total. Desânimo sem precedentes.

Se o petróleo cai, a bolsa despenca; se o petróleo sobe, a bolsa cai também.

A crise econômica atual que fica escancarada na bolsa de valores, na realidade, é uma crise de perspectivas. O Governo Federal conseguiu dizimar qualquer esperança.

É muito triste ver uma nação sem reação. Empresas virando pó, públicas e privadas.

A Petrobrás é o exemplo mais marcante. A má gestão e a corrupção detonaram a empresa. O valor de mercado é pífio. A dívida é oito vezes maior. Isso mesmo, oito vezes. As ações da empresa caminham a passos largos para virarem pó, sem valor de mercado. Fico pensando nas pessoas que usaram o FGTS em 2010 e pagaram 26 reais por cada ação. Perderam quase tudo!

Sempre é bom lembrar que o mercado de ações reflete o estado da economia de um país. Se a bolsa é arrasada, mesmo quem não tem dinheiro diretamente aplicado sai perdendo, todos perdem, sem exceção. O menor crescimento das empresas gera menor número de empregos, menores salários, menor crescimento da economia, menos impostos, etc. Um ciclo totalmente negativo.

Alguma perspectiva de melhora? Nenhuma. Continuaremos dentro do barco, afundando lentamente. Não temos outro caminho. É preciso esperar mais três longos anos para quem sabe ficar livre deste capitalismo de quadrilhas que comanda o país há mais de 13 anos.

Triste fim!

MJR

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Grande Tombini!



Com alguns dias de atraso (eu estava em férias) não poderia de deixar de comentar a lambança do Presidente do Banco Central (BC) na semana passada.

Desde a posse de Tombini em 2011, ainda no primeiro mandato da Presidente Dilma, sempre existiram sinais claros da falta de autonomia do BC do Brasil. A redução forçada da Taxa Selic de 2011 a 2013 e a “parada temporária” da subida dos juros básicos antes da eleição de 2014 (viés totalmente político) fortaleceram esta premissa.

Mas, desde o início de 2015, o BC parecia que estava seguindo sozinho, sem influências do Planalto. Mas só parecia. Semana passada tudo ficou bem claro. Após sinalizar por várias vezes a retomada da alta da Selic em janeiro de 2016 (desde a última reunião do Copom), na terça, 19, após uma reunião com a Dilma, o Presidente do BC emitiu uma nota patética: mostrou sua preocupação e “surpresa” com a projeção do PIB do Brasil para 2016 feita pelo Fundo Monetário Internacional. Uma situação projetada por quase todos os economistas e amplamente divulgada na imprensa, inclusive no relatório Focus do BC. Na quarta veio o veredito final: mesmo com a inflação em alta e resiliente, os juros básicos foram mantidos.

É bom dizer que, para muitos economistas de peso, um pequeno aumento da Selic agora teria pouco efeito sobre a inflação (o que eles denominam de “dominância fiscal”) e poderia aprofundar ainda mais a recessão. Mas o problema não é manter ou aumentar os juros, e sim a credibilidade da autoridade monetária. Os agentes econômicos precisam confiar nas declarações do BC. Não pode ser a bagunça que ai está. Isso é uma vergonha!

Desde 1998, dentre outras funções do BC do Brasil, a mais importante é o controle inflacionário, através do regime de metas de inflação. Para tanto, em casos de inflação em alta, o BC aplica ao mercado uma política monetária de contração da economia e eleva a Taxa Selic, tornando o crédito mais caro e, por conseguinte, reduzindo o consumo e a inflação. Porém, é uma medida impopular e com efeitos tardios: existe um hiato entre a alta de juros e a queda na inflação. Já a política monetária contracionista consiste em retirar dinheiro da economia e isto pode ser feito através do aumento dos compulsórios bancários retidos no BC, do aumento da Taxa de Redesconto aos bancos (juros cobrados pelo BC em empréstimos diários aos bancos) e da venda de títulos públicos.

Um potencial efeito do aumento da Selic seria a valorização do Real. O aumento dos juros internos atrairia mais capital estrangeiro favorecendo a entrada de dólares, o que ajuda no controle da inflação (dólar mais baixo). Porém, em virtude do cenário econômico, este fator não ocorreu.

Por último, e talvez o mais importante, com a sinalização da alta dos juros básicos, o BC demonstra que está atento e vigilante sobre o processo inflacionário, e que levará a inflação ao centro da meta num futuro breve. O que foi feito na semana passada mostra justamente o contrário, isto é, o BC e o governo sinalizam que desistiram da batalha contra a inflação. Assim, a cada dia que passa o Grande Tombini tem menos credibilidade e o mercado infere que a inflação continuará em alta, piorando ainda mais o cenário econômico.

Sempre é bom lembrar que para cada ponto percentual de elevação na Taxa básica de Juros equivale a cerca de R$ 18 bilhões de juros ao ano para os cofres públicos. Portanto, a ineficácia do Tombini está ficando cara demais. Em minha modesta opinião, o BC precisa recuperar urgentemente a credibilidade. Como? Procurando um novo Presidente.

MJR

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Onde investir em 2016



Talvez, nem o economista mais pessimista previa um cenário econômico tão ruim no Brasil em 2015. Inflação persistente, acima de 10% em 2015, forte recessão com queda de 3,5% no PIB, piora do rombo nas contas públicas, desemprego em disparada, dólar a quatro reais e desindustrialização do país, entre outros problemas. E o mais grave, uma crise política sem precedentes. Os meses de fevereiro e março deverão ser tensos. Brasília, a capital nacional vai ferver. E se o descontentamento popular piorar, a ebulição pode tomar as ruas do país: uma convulsão social. Aguardemos!

Esperávamos que 2015, após as eleições de 2014, fosse um ano de ajuste fiscal para voltarmos a crescer a partir de 2016. Porém, o Governo Federal está fragilizado e em guerra com o Congresso Nacional. Quase nada foi feito em 2015. Assim, iniciamos 2016 ainda no olho do furacão, sem perspectivas.  A confiança dos investidores e empresários continua em níveis críticos. Por incrível que pareça, se nada for feito, a situação econômica ainda pode piorar! Decididamente, o ano que começa não será fácil.

A taxa básica de juros, Selic, subiu de 11,75% para 14,25%, e os juros futuros (DI) tiveram pico de 17% em setembro de 2015.  Atualmente, os juros futuros oscilam entre 15,5 e 16,5%, acima da taxa spot, à vista, o que indica um cenário adverso pela frente – o próprio mercado já precifica os juros futuros. É possível que a Selic volte a subir nas próximas reuniões do Copom, pois a inflação não deu trégua. Mas a alta deve ser limitada, pois o quadro recessivo se agravou e muitos economistas já duvidam da efetividade da alta de juros no cenário atual: remédio amargo e pouco efetivo.

Por outro lado, para quem fez o dever de casa e tem dinheiro em caixa, líquido, o momento é ideal para os investimentos: juros de remuneração em alta, bolsa de valores na lona e uma crise instalada no setor imobiliário. Seguem algumas dicas para você aproveitar e ganhar dinheiro com a crise.

Curto Prazo – até 6 meses:

Poupança
Continue longe dela. A inflação atual supera o rendimento. Ano passado a poupança rendeu pouco mais de 8%. A inflação oficial, IPCA, foi de 10,67%. Portanto, quem aplicou em 2015 perdeu poder de compra.

Fundos DI
É a melhor opção para o curto prazo, quase 13% nos últimos 12 meses, e você garante a liquidez imediata do dinheiro. Mas cuidado: confira a taxa de administração do fundo. O ideal é que seja menor que 1%. O CDB com liquidez diária é uma opção natural aos Fundos DI e tem características similares.

Médio Prazo – menos de 5 anos:

CDBs pré ou pós-fixados com carência de 3 anos
Você conseguirá mais de 17% ao ano em taxas prefixadas e até 120% do DI nos CDBs pós-fixados. Uma bela remuneração.  Porém, atenção, estas taxas somente são conseguidas nas corretoras independentes, como exemplo, a XP Investimentos. Outro ponto importante: invista somente dentro do limite garantido de Fundo Garantidor de Créditos, ou seja, até 250 mil reais por CPF, mas lembre-se de acrescentar os juros, assim, não invista mais de 150 mil por CDB (no resgate cerca de 240 mil). Mais uma vez, estes CDBs não têm liquidez imediata, portanto você não poderá resgatá-los antes do vencimento.

Letras de crédito imobiliário (LCIs)
Apresentam bom rendimento, cerca de 90% da Taxa CDI, dependendo do montante investido, e melhor, são isentas de Imposto de Renda (IR). Cuidado com a liquidez, verificando o prazo de vencimento destes títulos. Existem fortes indícios que o Governo Federal pretende acabar com a isenção fiscal. Até lá, aproveite. As normativas da Receita Federal usualmente não são retroativas.

Tesouro Direto
As atuais taxas de juros para a remuneração dos títulos públicos favorecem muito esta modalidade de investimento. Em minha opinião, chegou a hora de começar a priorizar gradualmente os títulos prefixados. O possível aumento da Taxa Selic em 2016 já está precificado nos juros futuros. Sugestão: da parte alocada aqui, comece o ano de 2016 com 60% em títulos pós-fixados (Tesouro SELIC) e 40% em prefixados (Tesouro PREFIXADO 2021 – juros atuais em 16,26% ao ano). No decorrer do ano você vai invertendo a mão, aos poucos, favorecendo os títulos prefixados.

Fundos Imobiliários
Em virtude da vigorosa alta da taxa de juros e migração do dinheiro para os títulos pós-fixados (Fundos DI), além da crise no setor imobiliário, os preços das cotas foram bastante penalizados nos últimos anos e estão muito atrativos. Os proventos mensais são interessantes, até 1% ao mês, e isentos de IR para o pequeno investidor. É provável que no médio prazo o mercado imobiliário comercial volte a se aquecer.

Longo Prazo – mais de 5 anos:

Tesouro Direto
Visando a aposentadoria e se você não precisa dos cupons semestrais (juros antecipados), opte pelo Tesouro IPCA 2035 (NTNBs Série Principal) e tenha uma garantia de um retorno real acima do processo inflacionário: mais de 7,0% ao ano. Compre aos poucos e faça um preço médio dos juros. Cuidado, a venda antecipada pode gerar prejuízos (deságio).  O cenário dos juros ainda é nebuloso, mas como já comentado, uma alta significativa é improvável.




Dólar
Subiu fortemente em 2015, além do previsto. Todavia, não acredito numa nova onda de valorização sustentável em 2016. Por outro lado, pelo menos por enquanto, é improvável um recuo mais agudo da moeda. Sugiro manter uma pequena parte do seu patrimônio atrelado à moeda americana. Talvez entre 10 e 15%.

Mercado de ações – Bovespa
O caos atual não afetará os ganhos no longo prazo. O histórico das principais bolsas mundiais, incluindo a Bovespa, comprova esta premissa. As crises são passageiras, sempre, por mais duradouras que sejam. A atual cotação do Índice Bovespa, 40 mil pontos, e os preços de alguns ativos estão em patamares muito baixos. O IBOV dolarizado, nem se fala, está em cerca de 10.000 pontos – níveis de 2005. “Estamos em liquidação”, segundo o empresário Abílio Diniz.

É verdade, ainda podemos cair um pouco mais, talvez até os 35 mil pontos (ou menos), mas o objetivo de longo prazo é incalculável. Desta forma, o risco-benefício é muito bom. Mas invista somente aquele dinheiro que você não precisará no curto e no médio prazo. Estamos falando em investimentos para mais de cinco anos.

Dica: uma ótima e fácil opção para se investir na bolsa é comprar o ativo BOVA11. Não exige muito conhecimento por parte do investidor e o retorno no longo prazo tende a ser muito bom e, melhor, sem risco de crédito – você não estará comprando ações de uma única empresa, e sim de várias ao mesmo tempo. Por outro lado, se você começar a montar uma carteira personalizada com a ajuda de um bom especialista, seus ganhos poderão ser ainda maiores.

O clímax do pessimismo sempre gera as melhores oportunidades!

Dúvidas sobre estes investimentos? Consulte os vários textos publicados no meu site ou 
conheça o livro abaixo na Amazon.




* As opiniões postadas no blog são apenas posições do autor sobre o tema, e não constituem em si, recomendações de compra ou venda de ativos.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Futuro inglório





Começamos o ano de 2016 com o pé esquerdo. A previsão de um ano ruim era mais que óbvia. Quase nada foi feito em 2015, um ano perdido. O ajuste fiscal, cerne do caos econômico atual, não saiu do papel: os avanços foram mínimos.

No final do ano passado comentei que o IBOV tinha perdido um forte suporte em 44 mil pontos. Bingo. No dia de hoje o índice flerta com os 40 mil pontos, outro suporte.

O mais provável é um repique (alta) de curto prazo. Mas não se iluda, o IBOV vai cair ainda mais. O fundo tem porão. Tenho uma projeção pessoal de 35 mil (por volta de) pontos para os próximos meses, mas não será da noite para o dia. Será uma sangria mais lenta com picos de estresse, como o desta semana. Somente um fato novo pode mudar este cenário.

A bolsa brasileira está barata, mas a situação econômica interna é desastrosa. O quadro político é ainda mais nebuloso. A confiança dos empresários, dos investidores e da população foi triturada nos últimos anos. E para piorar, a China resolveu colocar as manguinhas de fora. Dá-lhe motivos para a bolsa desabar.

As bolsas internacionais tiveram altas expressivas nos últimos anos, porém elas começaram o ano com quedas vertiginosas. O motivo atual é a China, mas outros virão, o que pressionará ainda mais o nosso índice. Funciona assim: como aqui só temos más notícias e sem perspectivas de melhora, se as bolsas lá sobem, aqui acompanhamos, timidamente; mas se lá elas caem, aqui despencamos. Simples. Não temos pernas próprias. Somos reféns do humor dos investidores estrangeiros. Moral da história: o IBOV caiu mais de 6,0% somente nesta primeira semana de 2016.

Assim, definitivamente, não há motivos para comemorar. A situação vai piorar.

No próximo post vou comentar sobre as oportunidades de investimentos para 2016. Apesar de tudo, existem ótimas opções de investimento, no curto, médio e longo prazo. Não percam!

MJR