segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Cadê os investidores da bolsa?


Ao ler a reportagem abaixo, mesmo que não tenha mostrado nenhuma novidade, fiquei muito inquieto ao recordar da vexatória realidade do mercado nacional de ações. Menos de 0,3% dos brasileiros investem diretamente na bolsa – a “seleta” população carcerária é maior. Nos Estados Unidos mais de 65% da população investe em ações. Por que tanta discrepância? Quem são os verdadeiros culpados desta medíocre participação da população no mercado de capitais?... Veja alguns pontos e você verá que todos são culpados, desde o Governo Federal até os pequenos investidores.

1. É fato que um forte e sólido mercado de capitais é primordial para o sucesso de qualquer país. Através do mercado primário (IPO), as empresas captam recursos financeiros “baratos” para os novos investimentos, que geram riqueza, crescimento, impostos, empregos e bem estar da população. Todos ganham. Sem o mercado de ações, as companhias precisam tomar empréstimos nos bancos, pagando juros abusivos, ou serem subsidiadas pelo BNDES. Neste último caso quem paga a conta? É claro, o contribuinte!

2. O Governo Federal tem muita culpa, pois vive se intrometendo onde não deve, gerando incertezas e desconfiança dos investidores – a derrocada do setor elétrico é o caso mais recente. Uma crise de credibilidade é o pior cenário para se investir num país... Ao invés de cometer as sucessivas mazelas, o Governo deveria se preocupar em promover incentivos, baixando os impostos, especialmente para os investimentos de longo prazo, além de criar outros benefícios fiscais para o mercado acionário. Atualmente, a abertura de capital por uma empresa é extremamente onerosa e inviável para a maioria das pequenas empresas. 

3. Especulação. No Brasil, infelizmente, o efeito especulativo inerente ao mercado de renda variável, é muito exagerado. A maioria dos participantes, pessoas físicas, instituições financeiras, estrangeiros, pequenos e grandes investidores, pensa apenas no curto prazo, o que é trágico para o sucesso da bolsa no longo prazo... A volatilidade é incrível: o preço de uma ação pode oscilar 40% numa semana. Eu pergunto: qual a mudança de fundamento de uma empresa que tem o poder de alterar o valor de uma ação de um dia para o outro nesta magnitude? É óbvio, nenhum.  Tudo não passa de uma “manipulação suja” promovida pelos grandes investidores (é verdade, quase sempre dentro da lei), sedentos por lucros de curto prazo.
  
4. A Bovespa também é culpada. Em nome da “transparência”, ela frequentemente cria mecanismos que favorecem o processo especulativo.  Foi assim, com as ações da Eletropaulo e da OGX. Outra coisa, há 5 anos a direção da Bovespa tinha o objetivo de alcançar 5 milhões de investidores até 2014, hoje em menos de 600 mil, mesmo patamar de 2008. Cadê os investidores?... No mínimo faltou competência em buscar o objetivo traçado.

5. A Comissão de Valores Mobiliários tem culpa? Difícil afirmar; mas o caso da OGX é no mínimo suspeito. Será que todas as falsas perspectivas da empresa passaram despercebidas pelo orgão durante os últimos anos?... É sempre bom relembrar que a CVM deveria fiscalizar as companhias e seus balanços, garantindo a transparência do mercado e o direito dos minoritários.

6. O pequeno investidor também não está isento de culpa. Os motivos? São vários, veja:

O brasileiro não tem a cultura de investimentos. Fomos ludibriados nas últimas décadas pela facilidade dos lucros obtidos em investimentos em renda fixa. Todavia, a festa do lucro fácil e sem risco está acabando!
O pequeno investidor não tem o conhecimento necessário para enfrentar o mercado financeiro. Aqueles que se aventuram, perduram por muito pouco tempo.
Sofre do mesmo mal que os grandes investidores: almeja ganhar apenas no curto prazo. Como não tem experiência, são raros os casos de sucesso. A maioria dos brasileiros sequer tem dinheiro para investir e comumente estão atolados em dívidas.

7. Desta vez, nem podemos colocar a culpa nas crises externas, pois lá as bolsas estão batendo recordes e mais recordes. Algumas economias, como a americana, estão em plena recuperação.

Assim posto, fica fácil entender por que o IBOV não sai do lugar: incompetência do Governo Federal e da Bovespa, a ganância dos investidores e a falta de educação financeira dos brasileiros. Qual o prognóstico?... Se nada for feito, sombrio. Lamentável! MJR

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

E agora José... O que fazer no mercado de ações neste “restinho” de ano?


Alguns convivas mais próximos, e mais “desesperados”, que operam na Bolsa de Valores me perguntaram nos últimos dias, o que fazer diante das últimas turbulências no mercado de ações. A minha resposta: depende... Como assim? Depende do horizonte do seu investimento.

Curto prazo
Quem está fora, melhor permanecer assim, pois o IBOV continua patinando na faixa entre os 52 e 57 mil pontos (reveja meu comentário do dia 27 de outubro no blog). Para quem está fora e “doido” para entrar espere o próximo recuo, que acontecerá em breve – talvez nesta ou na próxima semana!
Quem está comprado, como eu, mantenha-se firme! Exceto, se perdermos definitivamente os 52 mil pontos. Obs.: nos últimos dias 12 e 13 de novembro houve uma falsa perda de suporte em 52 mil pontos do IBOV, o que provocou algumas “violinadas” (stops automáticos – a ação perde o suporte e é vendida, para depois voltar a subir. E o investidor, como fica? P. da vida, mas, paciência, acontece!).
Os objetivos de curto prazo? Os mesmos referidos anteriormente, ou seja, 61, 63 e 69 mil pontos (veja gráfico semanal abaixo). Passadas três semanas do meu último comentário, acho difícil buscarmos o patamar de 69 mil pontos, todavia ainda acredito no fechamento do IBOV por volta de 63 mil pontos em 2013. Lembre-se de que as bolsas lá fora estão em alta e a sazonalidade (final de ano) ajuda o cambaleante IBOV.

Longo prazo
Vejo ótimas oportunidades. Temos boas ações a preços camaradas. Uma carteira bem selecionada e diversificada poderá ter retorno expressivo nos próximos anos. Certeza? Nenhuma, apenas uma expectativa! É possível que tenhamos também um ano complicado em 2014, especialmente por se tratar de um ano eleitoral. Os problemas que afetaram a Bolsa em 2013 continuam a perturbar: aumento dos gastos do Governo Federal, inflação em alta, desconfiança dos investidores, etc. Em contrapartida, algumas companhias nacionais listadas na bolsa começam a mostrar bons resultados e outros ativos estão baratos.

Desta forma, fica claro que não existe uma receita de bolo para a questão. É preciso avaliar todas as variáveis, mesmo porque, existem outras opções no mercado, com bom retorno financeiro e menor risco, pelo menos até as incertezas se dissiparem. 
Voilà! MJR


terça-feira, 5 de novembro de 2013

Onde garantir seu futuro: Tesouro Direto ou Previdência Privada?


O que são?
A Previdência Privada Complementar (PPC) é uma modalidade de investimento que visa o complemento da previdência pública (INSS). É oferecida por várias instituições financeiras, bancos e seguradoras, e é regulamentada pela SUSEP – Superintendência de Seguros Privados – orgão do Governo Federal, o que teoricamente garante transparência e segurança. Apesar desta regulamentação, o dinheiro investido não tem garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), assim é preciso escolher com cautela a instituição, optando pelos agentes financeiros mais sólidos, tradicionais e com bom histórico no mercado. A PPC funciona como um fundo de investimento, onde várias pessoas podem ingressar individualmente num determinado plano, com o intuito de obter uma renda no futuro. Apesar de o produto ser oferecido de forma coletiva, o investimento é totalmente individual e nominal, porém a gestão do dinheiro é compartilhada. Desta forma, a administração do dinheiro fica a cargo de um gestor profissional, seguindo as diretrizes de investimento do regulamento específico daquele plano. Uma característica peculiar do plano de PPC é que o contribuinte numa data futura, pré-acordada, poderá optar por passar a receber uma renda vitalícia mensal ou pelo resgate total do montante acumulado. É óbvio que o futuro rendimento mensal dependerá do tempo de contribuição, do total acumulado e da expectativa média de vida do contribuinte a partir do início do benefício. 

O Tesouro Direto (TD) é um programa do Tesouro Nacional do Governo Federal em parceria com a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), criado em janeiro de 2002 com o intuito de facilitar o investimento da população em títulos públicos emitidos pelo Governo Federal. Anteriormente, a população somente podia comprar títulos indiretamente através de fundos de investimentos baseados nestes títulos. Desde então, é possível adquirir os títulos de maneira fácil e segura, através da internet. Os títulos públicos também não têm garantia do FGC, porém são garantidos pelo Governo Federal, sendo assim os ativos de mais baixo risco do mercado.

Como investir?
Os planos de PPC são oferecidos pelas diversas instituições financeiras. Basta um rápido cadastro de adesão e a assinatura do regulamento do plano, onde constam as diretrizes e todas as informações sobre o plano escolhido. De uma forma geral, exige-se uma contribuição inicial e depois aportes mensais fixos. O investidor pode solicitar a suspensão temporária do aporte mensal a qualquer momento, sem prejuízo. Importante: ao aderir ao plano, não se esqueça de nomear seus beneficiários e suas respectivas porcentagens.

Os títulos do TD podem ser comprados diretamente no site do Tesouro Nacional ou através de um agente custodiante integrado, porém sempre é necessário que o cliente tenha um cadastro prévio numa corretora credenciada pela CBLC, o que hoje pode ser feito rapidamente pela internet, sem burocracia. Os títulos podem ser comprados diariamente, sendo um processo muito simples. A partir de 2013 o TD passou a oferecer compras mensais programadas, num processo semelhante ao aporte mensal da PPC.

Liquidez
Os aportes financeiros aos planos de PPC ficarão bloqueados por 60 dias, que corresponde ao prazo de carência. Após este período os valores estarão disponíveis para saque, caso haja alguma emergência.
Já os títulos do TD poderão ser vendidos apenas às quartas-feiras, quando o Tesouro Nacional faz a recompra dos mesmos, porém a preço de mercado.

As taxas envolvidas
Nas duas modalidades de investimento, existem algumas taxas, veja o comparativo:

Taxa de carregamento
Corresponde à alíquota (porcentagem) que o banco cobra quando depositamos a contribuição mensal ou o aporte esporádico, incluindo o depósito inicial. Em geral, esta taxa é decrescente, assim, quanto mais dinheiro temos no fundo de PPC, menor é a taxa. Para valores aplicados acima de 100 mil reais, a taxa de carregamento costuma ser baixa, usualmente menor que 1,0%, variando entre as diversas instituições financeiras. Grandes empresas fazem fundos coletivos (fundos de pensão) e seus funcionários geralmente não precisam pagar esta taxa, sendo assim planos muito vantajosos, contudo limitados aos funcionários daquela empresa específica. Atualmente já existem planos previdenciários abertos que não cobram a taxa de carregamento.
Esta taxa não é cobrada no TD.

Taxa de administração
Aqui está o grande obstáculo dos planos de PPC, pois além de alta, a taxa de administração é cobrada em todos os planos e incide sobre o patrimônio líquido, ou seja, sobre todo o capital, aportes e rendimentos. No longo prazo uma taxa onerosa poderá corroer todo o lucro. Assim, é obrigatório procurar planos com taxas inferiores a 2%. O ideal seria no máximo 1%, especialmente para os planos passivos e exclusivos em renda fixa.
No TD esta taxa é bem menor, usualmente entre 0,25 e 0,5%, o que faz muita diferença no longo prazo. Algumas raras instituições não cobram esta taxa e outras cobram acima de 0,5%. Confira o ranking no site do TD.




Taxa de Saída
Esta taxa não é frequente nos planos de PPC. Era comum no tempo da CPMF – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira – e a alíquota era de 0,38%. Atualmente, algumas instituições financeiras que não cobram a taxa de carregamento, optam pela cobrança da taxa de saída. Entretanto, o valor somente será cobrado dentro do prazo extra de carência estipulado pelo plano. Exemplo: a taxa de saída será cobrada se o resgate ocorrer antes de 24 meses – uma forma de evitar saques antecipados, o que prejudica todos os participantes do fundo.
Esta taxa não é cobrada no TD.

Taxas de negociação e custódia
Não existem nos planos de PPC.
A taxa de negociação era cobrada pela CBLC até 2012 na compra ou venda dos títulos do TD, correspondendo a 0,1% sobre o montante. Em 2013 foi extinta.
A taxa de custódia é cobrada pela CBLC para guardar os títulos e pagar as despesas relativas às negociações, custódia e custos administrativos. A taxa de custódia é de 0,3% ao ano, cobrada pró-rata (relativa aos dias efetivados usados), semestralmente, sempre no primeiro dia útil dos meses de janeiro e julho. Valores inferiores a dez reais são acumulados para uma futura cobrança.

Tipos de planos e títulos disponíveis.
De acordo com a SUSEP, temos três tipos planos de PPC. O Soberano, que faz aplicação exclusiva dos recursos em títulos do Governo Federal, o Moderado, que permite também aplicar em títulos privados e, por último, o Composto, que permite também aplicação em renda variável (ações, inflação, câmbio, etc.). Assim, você poderá fazer um plano de previdência vinculado somente à renda fixa ou vincular parte do investimento à renda variável. Este aspecto deverá ser decidido antes de ingressar ao plano de PPC. Geralmente os planos de previdência com renda mista – os compostos, também chamados de balanceados – apresentam percentuais de aplicação em renda variável que variam entre 10 e 49%. Planos de previdência com rendimento exclusivo em títulos de renda fixa, especialmente aqueles de gestão passiva, são muito ruins no longo prazo, haja vista que a taxa de retorno é baixa, a taxa de administração é alta e ainda sofreremos com a inflação corroendo parte do nosso lucro. O ideal é escolher um plano de PPC Composto com um porcentual entre 10 e 49% de aplicação em renda variável, obviamente respeitando o perfil de cada investidor. A renda variável pode ser vinculada ao mercado de ações, a índices inflacionários ou ficar exposto a vários ativos (PPC multimercado).

Os títulos do TD podem ser prefixados ou mistos (parte da remuneração é prefixada e a outra pós-fixada), sendo que os mistos podem ser vinculados à SELIC, ao IPCA ou IGPM (desde 2006 o Tesouro Nacional parou de emitir títulos vinculados ao IGPM – Notas do Tesouro Nacional, série C – apenas os recompram as quartas-feiras). Não se preocupe muito com o nome dos títulos (Letras Financeiras do Tesouro, Letras do Tesouro Nacional, Notas do Tesouro Nacional, etc.), pois quando “vamos às compras”, o site da corretora ou do tesouro direto abre uma janela com todas as opções de remuneração e indexadores. Veja abaixo os títulos oferecidos hoje (05/11/2013) no site do TD.




Rendimento
O rendimento esperado nos planos de PPC é apenas uma expectativa (rentabilidade esperada), baseada no rendimento passado (rentabilidade observada) e nas perspectivas futuras. Não há garantia de rendimento, mesmo em planos exclusivos de títulos de renda fixa.

Já nos títulos do TD o rendimento é previamente conhecido (renda fixa), basta que respeitemos rigorosamente o prazo de vencimento do mesmo. Exemplos: nas Letras do Tesouro Nacional (LTN) a taxa de retorno é pré-fixada, atualmente cerca de 12,0% ao ano; nas Letras Financeiras do Tesouro (LFT) o retorno é baseado na SELIC, hoje em 9,5%; nas Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B) o rendimento é misto: uma taxa de juros pré-fixada, atualmente cerca de 6,0% ao ano, acrescida da inflação (IPCA).

Desta forma, aqui temos outra grande vantagem do TD sobre a PPC: o conhecimento prévio do rendimento futuro, além do que o investimento em NTN-B tem rendimento real, ou seja, acima da inflação.
É interessante salientar que as NTN-B também fazem parte do portfólio de grande parte dos fundos de PPC, especialmente nos Planos Soberanos, porém a gestão compartilhada do fundo pode ser prejudicial (veja a seguir).

Renda fixa ou variável.
Como já comentado, os planos de PPC podem ser exclusivos em títulos de renda fixa ou parte do investimento ser vinculada à renda variável, por lei, até 49%, sendo assim mistos (renda fixa e variável). A estratégia de investimento de longo prazo em ativos de renda variável (ações) tende a ser muito interessante, apesar do pífio rendimento nos últimos seis anos. Contudo, sabemos que o mercado acionário é cíclico e tempos melhores virão como aqueles vistos de 2003 a 2008. Desta forma, num futuro cenário hipotético de alta, os planos de PPC vinculados à renda variável tendem a ter rendimento superior ao TD.

E os títulos do TD são de renda fixa ou variável? A princípio os títulos do TD são considerados pelo mercado financeiro como títulos de renda fixa. Entretanto, esta premissa somente é válida para quem compra o título e o mantém durante todo o tempo de contrato até o vencimento. Em caso de venda antecipada, o título será recomprado pelo Governo a preço de mercado, com ágio ou deságio. Confuso?... Este último aspecto ocorre em virtude da oscilação da taxa básica de juros (SELIC). Com a recente alta da SELIC (2013), a taxa de juros paga aos títulos do TD subiu significativamente. Desta forma, quem comprou os títulos no ano passado terá um prejuízo em caso de venda antecipada, pois a taxa de juros naquela época era menor, assim houve um deságio no valor do título. O inverso também é verdadeiro: em períodos de queda da SELIC os títulos ficarão mais caros (ágio). Por estes aspectos comentados, podemos considerar que os títulos do TD podem ser de renda fixa, se respeitarmos o prazo de vencimento, ou de renda variável, caso haja uma venda antes do prazo. Veja abaixo o comparativo dos preços vendidos em 2012 e agora 2013. Todos os títulos estão mais baratos.





Importante: mais uma vantagem do TD.
A gestão das aplicações e resgates do TD depende única e exclusivamente do investidor. Desta forma, o perfeito entendimento dos aspectos acima referidos, impede que o investidor tome uma decisão equivocada de venda dos títulos em períodos de deságio. Nos planos de PPC o gestor é obrigado a rebalancear diariamente o portfólio do plano em caso de resgates antecipados. Portanto, os resgates antecipados de outros participantes do mesmo plano de PPC afetam diretamente o rendimento futuro do plano, mesmo que você não faça a retirada. Lembre-se de que a regulamentação do mercado exige que o fundo precifique sua carteira todos os dias (marcação a mercado); assim, as quedas recentes dos títulos públicos fizeram que vários fundos tivessem baixo rendimento, por vezes negativo. Com isso vários investidores acabaram por fazer resgates antecipados, prejudicando ainda mais o desempenho do fundo. Veja abaixo o desempenho de alguns fundos de PPC.




Transmissão de herança
Um ótimo benefício do investimento em PPC é que o montante arrecadado na fase de contribuição não entra em inventários de espólio, o que evita pagamentos de impostos e gastos advocatícios. Desta forma, o valor total da aplicação, descontado o IR, será repassado diretamente aos beneficiários, quase que automaticamente, sem burocracia. Mas atenção: não se esqueça de nomear seus beneficiários e suas respectivas porcentagens ao fazer o plano de previdência. Outro possível benefício: por lei (artigo 649 do Código de Processo Civil, Lei 5869/73), este tipo de investimento não seria passível de penhora para o pagamento das dívidas de seus titulares, entretanto têm havido decisões recentes do Poder Judiciário contrárias a esta premissa. Todavia, ainda há muita discórdia sobre o tema.

Já para os títulos do TD, os herdeiros precisarão pagar uma alíquota de até 4,0%, relativo ao Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD), para receber os recursos, além de aguardar a conclusão do inventário de espólio, o que pode ser uma longa jornada. É bom lembrar que na maioria dos Estados existe uma isenção do imposto para bens ou investimentos de menor valor. Em Goiás, a isenção é para bens com valores inferiores a R$ 25.000,00, já em São Paulo R$ 48.000,00.

Vantagens fiscais
Uma das grandes vantagens da PPC e também do TD é que o imposto de renda (IR) incidirá apenas no momento do resgate do dinheiro ou no recebimento do benefício mensal vitalício, nos casos da PPC. Já em outras modalidades, como nos fundos de investimentos, a tributação é semestral, pelo sistema de come-cotas, independente do saque do dinheiro. Desta forma, o IR não descontado semestralmente fortalece a composição do montante final, facilitando o “trabalho” dos juros compostos.

Basicamente existem dois tipos de planos de PPC: o VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) e PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre). A diferença básica entre os dois planos é a possibilidade de desconto dos depósitos mensais no imposto de renda (IR). O PGBL permite a dedução dos aportes financeiros até o limite de 12% sobre o valor total tributável recebido naquele ano. Entretanto, o imposto de renda (IR) incidirá sobre todo o montante resgatado. Conclui-se então que existe apenas uma postergação no pagamento do imposto de renda. Obviamente, o imposto não pago antecipadamente ajuda na composição do fundo, bem como de seus rendimentos. Para pessoas que fazem o recolhimento do IR anual através do desconto padrão (simplificado), a melhor opção passa a ser o VGBL, pois neste caso não é permitida à dedução no IR, porém no futuro, pagaremos IR somente sobre o rendimento. Apesar da simples diferença entre os planos, frequentemente as pessoas optam erroneamente, o que poderá acarretar enormes prejuízos.

Outra vantagem dos planos de PPC é o regime de tributação regressiva que pode reduzir a alíquota do IR a 10,0% para investimentos com prazo superior a 10 anos, contudo a alíquota pode atingir 35,0% em caso de saques antecipados. Neste modelo, a tributação regressiva, o imposto começa com uma alíquota de 35,0% e a cada 2 anos diminui 5,0%, até chegar a alíquota mínima de 10,0%. No outro modelo de tributação dos planos de PPC, a chamada tabela progressiva compensável, o imposto funciona como aquele que incide sobre os salários dos profissionais liberais, oscilando da isenção até o percentual máximo de 27,5% (veja a tabela abaixo). Nos saques antecipados a alíquota é de 15%.
Lembre-se de que o regime de tributação é escolhido pelo cliente antes da adesão ao plano, porém pode ser alterado a qualquer momento, durante a fase de contribuição.




Já a tributação do TD é semelhante aos fundos de renda fixa e, portanto, depende do tempo de permanência da aplicação. Investimento com período inferior a 180 dias, paga-se 22,5% de IR sobre o rendimento; entre 181 dias e 360 dias, 20%; entre 361 e 720 dias, 17,5%; e mais de 720 dias temos a alíquota mínima de 15%, ou seja, para os investimentos com prazo acima de 2 anos.  Ver tabela abaixo.



Disciplina
A disciplina é talvez o aspecto mais importante dos planos de PPC. O depósito mensal é “compulsório” e a maioria das pessoas tende a não mexer nestas aplicações, pois sabem que uma retirada precoce é prejuízo na certa. Desta forma, a disciplina de um investimento de longo prazo passa a ser incorporada à mente do investidor.
Desde 2013 o TD também permite aplicações programadas, inclusive com descontos nas taxas.

Portabilidade
É permitida apenas entre planos de mesma categoria (VGBL para VGBL ou PGBL para PGBL) e somente na fase de contribuição. Portanto, se você estiver insatisfeito com a instituição financeira, você poderá solicitar a transferência dos recursos a qualquer momento, sem ônus, respeitando os aspectos acima mencionados. O processo é muito simples, basta comparecer ao banco escolhido, munido do extrato da conta de PPC e solicitar ao gerente a transferência dos recursos. O processo é rápido e sem burocracia!
O TD também permite a mudança do agente custodiante, sem a necessidade de resgate dos títulos. O processo é isento de taxas ou do IR. Basta solicitar e autorizar a transferência dos títulos para o novo agente custodiante.

Cupons semestrais
Para as pessoas que necessitam de renda extra periódica, alguns títulos do TD pagam juros semestrais (cupons), como exemplo, as NTNB. Já para outros títulos, o pagamento ocorre apenas no vencimento, como nas LTN e nas NTNB série principal. Se você não necessita deste rendimento semestral, opte pela NTN-B principal, pois o resultado no longo prazo será melhor.  

Desempenho recente
Nos últimos anos o desempenho dos títulos do TD foi bem superior aos números conseguidos pelos planos de PPC. Uma reportagem publicada em maio de 2013 na Revista Exame, numa pesquisa da consultoria Netquant, mostrou que nos últimos 5 anos, enquanto as NTNB renderam 125%, os planos de PPC de renda fixa renderam em média 54% e os vinculados à renda variável 50%, muitos perdendo do processo inflacionário. Os motivos?... Como parte dos investimentos dos planos de PPC são aplicados no mercado de ações, o desempenho recente ruim da bolsa afetou diretamente os planos compostos de PPC. Já os planos exclusivos de renda fixa sempre são afetados pelas altas taxas de administração e pelo processo de gestão compartilhada de recursos, como já comentado.

Oportunidade
Como a taxa SELIC ainda está com viés de alta, hoje em 9,5%, é provável que os títulos do TD ainda tenham algum pequeno deságio nos próximos meses. Entretanto, em breve, quando chegar o fim do ciclo de alta da SELIC, talvez no próximo semestre (2014), teremos uma grande oportunidade em comprar os títulos do TD, com juros mais altos e valor reduzido dos títulos, especialmente os de vencimento mais longínquo. Pode apostar!

Conclusão
E aí, chegou a alguma conclusão?... TD ou PPC?... Após estes comentários, fica claro que hoje aplicar em títulos do TD é a melhor opção de investimento, pois os rendimentos são maiores e mais previsíveis, as taxas envolvidas são menores, não há influência de terceiros e o risco do investimento é menor, pois são garantidos pelo Governo Federal. Entretanto, acredito que apesar da PPC não ser o investimento ideal, também tem lá seus méritos, especialmente em relação à disciplina deste tipo de investimento, que é muito interessante e salutar, além das vantagens fiscais. E não se esqueça: os planos VGBL são os mais indicados para quem opta por fazer a declaração de renda anual pelo desconto simplificado. Outra grande vantagem é que os recursos investidos em PPC não entram em inventários de espólio, sendo repassados automaticamente aos seus beneficiários, evitando gastos advocatícios, aborrecimentos e o pagamento do imposto de transmissão de herança (ITCD).
Então, o que fazer?... Minha sugestão: faça uma composição de uma carteira de longo prazo contendo os dois produtos, contudo com predomínio de títulos do TD, especialmente as NTNB, que são títulos vinculados à inflação. Reserve entre 10 a 20% do capital total para ser aplicado em planos de PPC, e sempre em planos vinculados à renda variável (20 a 49%). Opte também por incluir em sua carteira outras importantes modalidades de investimentos: ações, fundos imobiliários, debêntures incentivadas, letras de crédito imobiliário, etc.
Concorda? Dúvidas? Entre em contato.

Espero que eu possa ter contribuído de alguma forma. O assunto é complexo, importante e muitas vezes negligenciado pela maioria dos investidores. Lembre-se, além da disciplina, outro quesito fundamental para o sucesso do investidor é o conhecimento! 
MJR