domingo, 25 de fevereiro de 2018

Grau de investimento – O Brasil é rebaixado mais uma vez e a bolsa bate novo recorde.



Um dos assuntos da última sexta-feira foi o novo rebaixamento do Brasil pela agência de risco Fitch, e, curiosamente, a bolsa bateu novo recorde: acima dos 87 mil pontos. Você poderia me perguntar: não deveria ser o contrário?

O Brasil perdeu o grau de investimento em 2015. E depois disso sofreu novos rebaixamentos. Na prática, o que muda para o país? O que muda para você? Veja algumas ponderações:

·        As três principais agências de Rating são a S&P, a Moodys e a Fitch, todas estrangeiras. São agências privadas e independentes que avaliam o risco de calote dos países (risco soberano) e das empresas de capital aberto (risco corporativo), sejam elas públicas ou privadas. Desta forma, as agências estimam a probabilidade de inadimplência futura do emissor avaliado.

·         A análise é quantitativa (relatórios financeiros) e qualitativa (qualidade da gestão, crescimento esperado, competitividade no mercado e vulnerabilidade ao mercado e ao sistema econômico).

·         Veja os quatro fatores principais que são avaliados para o rating: os chamados 4Cs:
o    Caráter do emissor – histórico de crédito.
o    Capacidade de pagar as dívidas – análise financeira.
o    Colateral oferecido – garantia específica de cada título emitido.
o    Covenants da emissão – direitos e deveres contidos no documento da emissão do título.

·         Existe uma graduação básica das agências. Resumidamente temos dois níveis:
o    Grau de investimento (Investment grade): isto é, alta probabilidade de pagamento dos juros e da devolução do valor principal investido no vencimento do título.
o    Sem grau de investimento (Non-investment grade – junk): o contrário.

·         Qual a importância dos países terem o Grau de investimento?
o    Ao emitir dívidas o Governo pagará menos juros. O mercado exige menos de um bom pagador. O endividamento público faz parte de qualquer Estado. O Governo sempre precisará de recursos de terceiros para o desenvolvimento do país e para a melhoria da qualidade de vida da população, e por isso precisa almejar juros baixos.
o    Grandes fundos internacionais somente podem investir em países com o chamado Grau de Investimento (proibição estatutária), porém, na prática isso é irrelevante.

·         Por último, o mais importante de tudo. As notas das agências são tardias.  O mercado financeiro é muito mais rápido e eficaz. Enquanto as notas de crédito caem, a bolsa sobe, pois o mercado financeiro entende que o Brasil está no caminho certo e a economia está melhorando e vai melhorar muito mais. Se você esperar o Brasil voltar a ter grau de investimento para comprar ações, será muito tarde, pois será o fim do ciclo de alta. Lembre-se de que o Brasil recebeu o grau de investimento em 2008 e, depois disso, a bolsa só caiu até 2015, justamente quando o país ainda tinha o grau de investimento.

Posto isto, não confunda alho com bugalho. Esqueça a mídia não especializada e as agências de risco.

MJR


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

O S&P e o IBOV



Comecei a acompanhar o mercado financeiro em 2008. Isso mesmo, no ano em que as bolsas derreteram mundo afora, inclusive no Brasil. Assim, a minha jornada foi iniciada num banho de sangue.

Desde o começo, comprovei com os próprios olhos que o IBOV mantinha uma correlação direta com S&P – o principal índice americano (e do mundo). Veja o gráfico inicial. Contudo, ao final de 2012, os mercados se descolaram. Em 2013 eu buscava compulsivamente o motivo desse distanciamento. Todavia, descobri a razão apenas em 2014: o Brasil tinha ficado para trás pelo efeito Dilma. As mazelas da ex-presidente (e do Guido, é claro) destruíram a economia local e o mercado financeiro, como sempre, apenas antecipou a tragédia econômica tupiniquim.

Enquanto as bolsas americanas estão em alta desde 2009, num dos mais longevos ciclos de alta de todos os tempos, o IBOV ficou estagnado até o final de 2015. O índice local somente deu sinais de vida em janeiro de 2016. De lá para cá, já subimos mais de 100%. Então, será que já recuperamos todo o tempo perdido?

Façamos uma simples comparação entre o IBOV e o EWZ. Este último é um “ETF Brazil” negociado nos EUA em dólares que segue o desempenho das ações brasileiras. Veja os gráficos. Perceba que, enquanto o IBOV superou o topo de 2008 (primeiro gráfico), o EWZ não chegou nem na metade da marca de 2008 (segundo gráfico). Somente por isso, fica bem claro que estamos apenas no começo do ciclo de alta. Outro ponto positivo: a economia real no Brasil melhorou muito no pós-Dilma (inflação, taxa de juros, câmbio e confiança dos empresários, dentre outros indicadores) e ainda temos muito para recuperar, especialmente no que tange aos empregos, basta que a eleição de 2018 não atrapalhe a recuperação econômica. É provável que tenhamos vários anos de crescimento pela frente. Se a economia cresce, os lucros das empresas crescem e, consequentemente, as ações seguem em trajetória de alta. Simples.





E o mercado externo pode nos atrapalhar? Com certeza, mas se fizermos o dever de casa, entenda-se, a reforma de previdência em 2018 ou 2019 (controle de gastos públicos) e a eleição de um Presidente pró-reformas, o início de um ciclo de queda lá deverá nos afetar apenas de maneira pontual e tímida. Lembre-se de que eles estão no final de um ciclo de alta e aqui estamos começando o ciclo.

Por que as bolsas nos EUA devem corrigir em 2018? O mercado de trabalho lá está próximo do pleno emprego e os juros básicos nos EUA começaram a subir, e devem subir mais com a volta da inflação. E ela vai voltar, inexoravelmente. Com o pleno emprego, os salários começarão a subir (menor lucro para as empresas), refletindo em mais dinheiro na economia e mais inflação. Desta forma, uma inflação maior, uma taxa de juros em elevação e a redução do lucro das empresas determinarão a correção do mercado de ações nos EUA. Outro fator decisivo: nenhum mercado sobe para sempre (alta de mais de 300% desde o fundo em 2008). Em algum momento o mercado americano precisaria corrigir, e me parece que chegou a hora (2018).

Resumindo: o prognóstico para o IBOV é muito bom. Já para o S&P nem tanto. Desta forma, não será desta vez que esses mercados andarão de mãos dadas. A não ser que os eleitores brasileiros decidam pela volta da turma da Dilma ou por coisa pior.

MJR