Muita gente
esperava uma reação mais forte do mercado financeiro após a votação
impeachment. Porém, a segunda-feira foi decepcionante. Uma reação singela e sem
graça.
Confesso que
esperava uma reação positiva num primeiro momento e logo depois um recuo (na
terça, quarta ou até no mesmo dia), mas o mercado optou por muita cautela desde
o início e terminou o dia numa pequena queda.
Se analisarmos
o pregão de sexta passada, 15, pré-impeachment, já existiam sinais de
“tranquilidade” no day after. O mercado futuro denunciava claramente: poucos
contratos de hedge (proteção) e poucos investidores estrangeiros comprados no
índice futuro (saldo positivo em pouco mais de 63 mil contratos). A maioria dos
investidores optou pela serenidade. Sempre é bom lembrar que os investidores
estrangeiros representam 51% dos investidores na Bovespa. Não existe movimento
forte sem a presença dos gringos. Não temos “vida própria”. É preciso saber surfar
a onda criada por eles.
E por que o
dólar não despencou? Esta seria a lógica, não? A forte intervenção do Governo
Federal nos últimos dias ajudou a segurar a taxa de câmbio pela excessiva oferta
de “swaps cambiais reversos”, o que na prática funciona como compra de dólares,
forçando a valorização momentânea da moeda estrangeira.
Outro fator
que prejudicou o desempenho da bolsa brasileira na última segunda-feira foi a
forte queda do petróleo no mercado internacional, em virtude do fracasso das
negociações na reunião do Oriente Médio, e da forte queda generalizada das
bolsas internacionais.
Ontem, terça,
19, a Bovespa subiu 1,5%, mas sem volume financeiro, basicamente pela recuperação
das commodities: petróleo e minério de ferro. Os demais ativos importantes ficaram
em stand by.
Posto isso,
fica claro que o cenário da votação impeachment na câmara dos deputados já
tinha sido precificado pelo mercado. A chance de vitória era muito alta.
Nenhuma surpresa.
E agora, o que esperar do dólar e da
bolsa para as próximas semanas?
Tudo indica
que o impeachment vai seguir sem grandes obstáculos no Senado Federal, mesmo
com a “velada procrastinação” do presidente Renan. A vitória na câmara foi
esmagadora. O Governo Federal está em frangalhos e sem rumo. E a operação Lava
Jato está a todo vapor. Não há outro caminho, felizmente.
Permaneço
com a minha previsão para o IBOV entre 58 e 62 mil pontos ao final do processo de
impeachment e nos primeiros dias do Governo Temer, o que indica ainda um potencial de valorização entre 10 e 20%.
O dólar ainda
tem muito espaço para cair. O Governo não conseguirá segurar. R$ 3,20? Talvez
menos. Aguardemos.
Contudo,
preparem-se para as turbulências e a volatilidade do segundo semestre de 2016.
Vai ser muito “pesado”: dólar em alta e bolsa em queda. Uma ressaca previsível no
Brasil (volta à realidade, aos fundamentos econômicos) e também uma ressaca no
exterior após anos e anos de dinheiro fácil e barato (“juros zerados”). A bolsa
brasileira somente subirá de forma consistente após o ajuste fiscal, a volta da
esperança dos investidores e da retomada do crescimento, quem sabe em 2017.
Mas não
sejamos chatos e pessimistas. Esqueçamos o futuro. Aproveitemos o presente e os bons momentos.
MJR
MJR