Depois de um
março caótico nas bolsas mundiais, o mês de abril foi supreendentemente
positivo – bem acima das minhas expectativas.
Seguindo o
comportamento dos índices americanos, o IBOV subiu fortemente no mês de abril.
Alta de mais de 10%. Não fosse o dia muito ruim da última quinta-feira, queda
de 4%, o desempenho poderia ter sido ainda melhor.
Antes de
comentar os dados gráficos e sugerir os próximos passos do IBOV, vou relembrar
os atuais “fundamentos” dos ativos globais.
A queda
vertiginosa dos ativos no mês de março foi provocada pela rápida disseminação
da Covid-19 (inicialmente subestimada pelo mundo ocidental), pelas medidas tomadas
pelos governos para frear a pandemia (isolamento social e lockdown) e
pela grave crise do petróleo.
Após a
enxurrada de estímulos fiscais mundo afora, os Bancos Centrais aumentaram ainda
mais a liquidez nas economias globais. E como sempre o dinheiro em excesso
infla o valor dos ativos de renda variável. Outro efeito colateral poderia ser a
inflação, mas ela provavelmente não ocorrerá no curto prazo (retração da
economia, desemprego e avanços tecnológicos, dentre outros fatores).
Por outro
lado, o desempenho das bolsas em abril foi muito além de qualquer previsão
otimista. Acredito que essas fortes altas não são condizentes com o cenário
atual da economia mundial. Talvez a partir de maio voltaremos a realidade.
A seguir listo
alguns aspectos que vão na contramão das altas recentes:
O
efeito do lockdown na economia global ainda não chegou aos números da
economia real. Mas a conta vai chegar!
A
divulgação dos resultados trimestrais das empresas nas próximas semanas pode
frear o otimismo global (alguns resultados já publicados mostram essa direção).
E mais, o resultado negativo mais dramático não será no primeiro trimestre e,
sim, no segundo.
Ocorrerá
um forte recuo no PIB mundial. Isso é inexorável. Ainda não sabemos o tamanho
do rombo e nem se o efeito será somente no curtíssimo prazo. Até aqui, me
parece que o mercado está “apostando” nessa hipótese.
Por
enquanto, o aumento do desemprego é o dado mais palpável da crise, basta ver os
números americanos.
A forte alta do S&P 500 desde o
fundo de março foi muito concentrada nas ações das grandes empresas americanas
de tecnologia. E historicamente isso não é boa coisa. É só rememorar a crise
das empresas de tecnologia em 2000.
Por
aqui, se não bastasse a crise do coronavírus, o ambiente político foi
extremante deteriorado pelas inúmeras gafes dos nossos governantes em Brasília.
E mais. A confusão me parece estar apenas no começo. É inacreditável o poder de
lambança dos nossos mandatários. É um terror sem fim.
Os
esforços da equipe econômica do Governo Federal em combater à crise (e na
direção correta em minha opinião) vão agravar o quadro fiscal no Brasil, que já
era ruim.
Passemos
aos dados gráficos:
No último
post publicado no começo de abril citei três possíveis caminhos para o IBOV. O
caminho percorrido pelo índice foi a segunda opção elencada por mim. Na última
quinta-feira o IBOV fechou em 80 mil pontos, após ter atingido 83.500 pontos na
véspera.
Continuaremos
em alta ou entraremos numa segunda onda de recuo nos preços?
Vejam
alguns detalhes:
O gráfico de curto prazo (diário) mostra uma tendência de alta com topos e fundos
ascendentes. Teoricamente, ainda existe um bom espaço para novas máximas.
Todavia,
acho que a bolsa brasileira está perdendo força. A forte queda do último dia
abril pode ser o gatilho para mais recuos.
Os
preços estão trabalhando dentro de uma figura gráfica chamada de cunha ascendente
– uma figura de baixa. Os preços subiram, mas de “maneira contida”. A
perda da faixa dos 75 a 77 mil pontos poderá derrubar o IBOV. Daí poderíamos voltar
a testar os fundos prévios em 71, 67 e 61 mil pontos.
Por
outro lado, um eventual rompimento dos 84 mil pontos poderá desencadear novas
altas do IBOV. Graficamente existe “caminho livre” até os 100 mil pontos.
E
o mais importante, continuaremos grudados no desempenho das bolsas americanas,
e talvez lá, o rali de alta esteja perdendo fôlego. Será?
Por
último uma curiosidade: Charles Dow, o maior exponente da análise
técnica no século passado, cita que um Bear Market tem três movimentos
claros: uma forte queda inicial, seguida de uma significativa alta (menor que o
primeiro) e, por último, temos um novo movimento de queda, que pode parar no
fundo da primeira queda ou renovar o piso. Talvez estamos próximos dessa terceira
onda.
Posto tudo isto,
é fato que estou pessimista no curto prazo. Os efeitos da pandemia ainda são muito
incertos e nebulosos. Apenas o desenvolvimento de uma vacina poderia trazer o alívio
definitivo ao mundo. O otimismo exagerado do mercado me parece precipitado.
O que
fazer? Minhas sugestões:
Mantenha
um bom caixa (dinheiro com liquidez imediata e sem risco). Boas oportunidades
poderão surgir em breve.
Não
exagere nas posições acionárias. Também não recomendo zerar suas posições.
Faça
realizações parciais de lucros. Alguns ativos subiram muito em abril.
Evite
comprar empresas problemáticas e endividadas que cairão muito. As melhores
empresas sairão mais fortes da crise.
Mantenha
os ativos de proteção em carteira. Apesar da forte alta do dólar americano e do
ouro, ainda não há sinais de reversão nesses ativos. E mais, se a crise
política no Brasil piorar, a moeda americana poderá continuar subindo
fortemente.
No
atual cenário tenha algum cuidado com os títulos de renda fixa. Os juros
futuros podem “explodir” e os preços dos títulos despencarem, se a crise
política agravar.
Mantenha
um portfólio diversificado e mais cauteloso.
Não
exagere no otimismo para uma eventual recuperação rápida da economia. Este
caminho é possível, mas não me parece o mais provável, pelo menos por enquanto.
A
ideia é ficar “posicionado” para enfrentar todos os cenários possíveis. No
momento, as incertezas são preponderantes e ninguém sabe sobre o futuro.
Resumindo, a
bolsa até pode continuar subindo, mas em minha opinião, o mais provável é um
recuo nos preços a qualquer momento a partir de maio. Último detalhe: enquanto
a B3 ficou fechada na última sexta-feira, em virtude do feriado, as bolsas
americanas caíram fortemente (cerca de 3%). E mais. Os futuros das bolsas
americanas abriram em queda neste domingo. Pode ser o prenúncio de mais um “Sell
in may and go away”. Be aware!
Bons investimentos.
MJR
As opiniões postadas no blog são apenas posições do autor sobre o tema, e não constituem em si, recomendações de compra ou venda de ativos. E mais. O investimento no mercado de renda variável pode gerar prejuízos.
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