sábado, 28 de maio de 2016

Mercado Financeiro – Atualização pós-impeachment


Há cerca de 10 dias escrevi no blog que o cenário externo ofuscava a euforia pós-impeachment. De lá para cá, o que mudou?

1 – As bolsas americanas obtiveram ganhos expressivos nesta última semana, quebrando um ciclo de quedas de quatro semanas.

2 – A alta da taxa de juros americana está muito próxima, o que é ruim para as bolsas mundiais, especialmente nos países emergentes, e que fortalece a moeda americana frente às outras divisas.

3 – Neste período o dólar se valorizou frente ao real, de 3,50 para 3,60 seguindo o movimento externo. Os juros futuros DI no Brasil se apreciaram, de 12,4 para 12,8% ao ano.

4 – Os gringos continuam longe da Bovespa desde o fim de abril. O motivo principal é o cenário político brasileiro. Muitos imaginavam que o processo de impeachment amenizaria os ânimos em Brasília. Mas faltou combinar com a operação Lava Jato e com o “mui amigo” Sérgio Machado, que gravou vários caciques do PMDB, no intuito de fugir de Sérgio Moro e diminuir sua pena. O primeiro a cair foi o Jucá. Quem será o próximo?

5 – A incerteza política freia o ímpeto dos investidores em tomar risco. Assim, fogem da bolsa e buscam refúgio no dólar e pressionam os juros. A maior preocupação é sobre a aprovação das medidas propostas por Meirelles num congresso tão conturbado. As acusações contra Renan Calheiros minam o presidente do senado, o que pode atrapalhar o andamento das medidas. Por outro lado, as novas delações complicam ainda mais a situação da presidente afastada e do ex-presidente Lula.

6 – Desta forma o momento é de muita cautela. Tivemos mais uma semana de queda no IBOV, num movimento contrário às bolsas mundiais. Porém, o volume financeiro foi muito abaixo da média, o que indica apenas uma correção momentânea. O índice Bovespa ainda tem espaço para buscar os 47/48 mil pontos, sem perder a tendência de alta no gráfico semanal.

7 – O gatilho para uma nova temporada de alta no IBOV poderá surgir após uma trégua no cenário político. Porém, novas denúncias podem provocar mais quedas.

8 – Para pensar: no auge do pessimismo, o IBOV bateu 37 mil pontos em janeiro de 2016; no clímax do otimismo, no fim de abril, a bolsa quase atingiu 55 mil pontos, mesmo antes do afastamento da presidente Dilma. Nesta última sexta o IBOV fechou por volta dos 49 mil pontos. Com a nova equipe econômica, elogiada por todos e melhor do que muitos imaginavam, qual seria o caminho mais provável para o IBOV nos próximos meses: retornar aos 37 mil pontos ou buscar os 55 mil e depois superá-lo?

9 – Acho que o mais lógico e provável seria a segunda opção. Entretanto, existe um único fato que me faria mudar de ideia. Qual? Se a operação Lava Jato atingir diretamente o presidente interino Michel Temer, o que por enquanto, parece estar de longe de acontecer (“parece”). Caso isto ocorra, ficaremos à deriva, num mar revolto e próximos do naufrágio.


10 – Tenho convicção de que as turbulências atuais são passageiras. Esta verdadeira limpeza na política brasileira é muito salutar para o longo prazo. Faz muitos estragos no curto prazo, mas é muito bem-vinda. É um processo depurativo.  Sairemos melhores. Aproveite o momento para montar uma boa carteira de ações e comprar títulos públicos de longo prazo vinculados à inflação. Não espere por um céu de brigadeiro. A jornada do investidor de longo prazo é sempre árdua e lenta, com altos e baixos, mas usualmente muito recompensadora no final. 

MJR


* As opiniões postadas no blog são apenas posições do autor sobre o tema, e não constituem em si, recomendações de compra ou venda de ativos.


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