segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Por que o rendimento dos planos de Previdência Privada Complementar em 2013 foi tão ruim?


Muitos fazem esta pergunta e poucos sabem a resposta. O desempenho de qualquer investimento depende de dois fatores básicos: rendimento bruto e custos. Os planos de previdência privada complementar (PPC) são caracterizados pelos elevados custos operacionais: taxa de carregamento, taxa de administração e taxa de saída. Em 2013, o rendimento foi drasticamente afetado pelo péssimo desempenho do mercado acionário nacional (queda de 15,5% do IBOV) para os planos de PPC vinculados à renda variável. Por outro lado, em virtude da vigorosa alta da taxa básica de juros (Selic) em 2013, de 7,25% para 10,0%, os planos de PPC em renda fixa também foram afetados, pois investem grande parte de seus recursos em títulos do Governo Federal. Estes títulos públicos tiveram um importante deságio decorrente da escalada da Selic, especialmente os títulos pré-fixados (LTN) e os títulos vinculados à inflação (NTN-B). Isto ocorreu porque as taxas de juros (rendimento) destes títulos até o início de 2013 eram bem menores.

Desta forma, a maioria dos planos de PPC teve um desempenho muito ruim, por vezes negativo, o que assustou os investidores, que por sua vez fizeram saques antecipados, prejudicando ainda mais a perfomance destes fundos; após resgates antecipados, os gestores são obrigados a reequilibrar a carteira do plano de PPC, conforme o regulamento, desfazendo-se dos títulos com deságio (preço de mercado). As pessoas se esquecem de que estes investimentos devem ter um horizonte de longo prazo. Turbulências são corriqueiras e comumente passageiras. O mais importante é o retorno efetivo em 20, 30 anos. Os planos mais sensíveis são os vinculados à renda variável, mas são eles que podem garantir um ganho real no futuro. Um ano ruim pode ser compensado por outro muito bom, assim, a tendência natural é que no futuro, o melhor desempenho Bolsa e a estabilidade da Selic impulsionem maiores rendimentos destes fundos, compensando as perdas de 2013.

Entretanto, posso afirmar que, apesar de alguns benefícios, esta modalidade de investimento está muito longe ser a ideal. Reveja no blog o comparativo que fiz entre os planos de PPC e a compra direta dos títulos Tesouro Direto, em novembro de 2013. 

Antes de mostrar as tabelas e gráficos, veja o resumo dos comentários:

1 – Os planos de PPC dependem da taxa básica de juros (planos de renda fixa) e do desempenho do mercado de ações (planos balanceados em renda variável).

2 – O aumento da taxa Selic ocasiona o aumento da taxa de juros de remuneração dos títulos públicos e, por conseguinte, reduz o valor de face dos títulos. Por outro lado, a queda da Selic reduz a taxa de juros de remuneração e o aumento do valor do título.

3 – Os planos ditos atrelados ao processo inflacionário dependem do desempenho das Notas do Tesouro Nacional Série B (NTNB), que são títulos de longo prazo e que pagam ao investidor uma taxa de juros anual, acrescido do IPCA (índice oficial de inflação do Governo Federal). Como o IPCA é uma variável “fixa”, o título sofre grande influência da oscilação da taxa Selic, especialmente por ser um título de longo prazo.

4 – Em período de estabilidade da Selic existe uma pequena oscilação diária dos valores dos títulos e dos juros, em virtude do preço de mercado: expectativa futura da taxa Selic, oferta, demanda, etc.

5 – Os títulos públicos somente são considerados de renda fixa para os investidores que carregam o título até o vencimento, pois não ficam expostos às oscilações de mercado e receberão no futuro o valor previamente acordado na compra do título.

Veja abaixo o gráfico da taxa Selic de 2011 a 2014: a taxa começou o ano de 2011 em alta e atingiu seu pico em julho (12,5%). A partir daí começou uma vertiginosa queda, atingindo a mínima em 7,25% em outubro de 2012. Ela permaneceu estável até abril de 2013, data em que o Banco Central promoveu a primeira alta. Desde então houve uma escalada da Selic, atingindo o patamar de 10,5% em janeiro de 2014. Então, baseado nos conceitos anteriores, pense: como foi o desempenho dos títulos públicos nestes três anos?



Na tabela seguinte, temos a evolução da taxa de juros e do valor dos títulos neste período (2011 a 2014). Compare com o valor da taxa Selic em cada data.



Agora, baseado no valor dos títulos, como foi o desempenho dos PPC em 2012 e 2013?... Lembrando no primeiro ano houve queda acelerada da Selic e no segundo uma alta vertiginosa. Veja na tabela abaixo, o rendimento de alguns planos de PPC oferecidos pelo banco onde tenho conta.





Observe que em 2013, todos os planos tiveram um rendimento inferior a 2012. Pior, todos perderam do rendimento da poupança. Outro aspecto muito interessante é o desempenho do plano de PPC vinculado ao processo inflacionário (quarto plano, de cima para baixo). Em 2012 ele teve um rendimento fantástico (quase 30%) e em 2013 um desempenho horroroso (queda de 15%). Motivo?... Volte na tabela comparativa dos títulos públicos e reveja o desempenho das NTNB. Em 2012 subiram quase 40% e em 2013 caíram 20%.
Desta forma, espero que eu tenha conseguido explicar a dinâmica de remuneração dos títulos do Tesouro Direto e, por conseguinte, dos PPC... Fica a pergunta: investir em planos de PPC ou comprar diretamente títulos públicos?

Como já dito, reveja o comparativo que fiz em novembro do ano passado. Até mais! 

MJR

Nenhum comentário:

Postar um comentário