segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Grande Tombini!



Com alguns dias de atraso (eu estava em férias) não poderia de deixar de comentar a lambança do Presidente do Banco Central (BC) na semana passada.

Desde a posse de Tombini em 2011, ainda no primeiro mandato da Presidente Dilma, sempre existiram sinais claros da falta de autonomia do BC do Brasil. A redução forçada da Taxa Selic de 2011 a 2013 e a “parada temporária” da subida dos juros básicos antes da eleição de 2014 (viés totalmente político) fortaleceram esta premissa.

Mas, desde o início de 2015, o BC parecia que estava seguindo sozinho, sem influências do Planalto. Mas só parecia. Semana passada tudo ficou bem claro. Após sinalizar por várias vezes a retomada da alta da Selic em janeiro de 2016 (desde a última reunião do Copom), na terça, 19, após uma reunião com a Dilma, o Presidente do BC emitiu uma nota patética: mostrou sua preocupação e “surpresa” com a projeção do PIB do Brasil para 2016 feita pelo Fundo Monetário Internacional. Uma situação projetada por quase todos os economistas e amplamente divulgada na imprensa, inclusive no relatório Focus do BC. Na quarta veio o veredito final: mesmo com a inflação em alta e resiliente, os juros básicos foram mantidos.

É bom dizer que, para muitos economistas de peso, um pequeno aumento da Selic agora teria pouco efeito sobre a inflação (o que eles denominam de “dominância fiscal”) e poderia aprofundar ainda mais a recessão. Mas o problema não é manter ou aumentar os juros, e sim a credibilidade da autoridade monetária. Os agentes econômicos precisam confiar nas declarações do BC. Não pode ser a bagunça que ai está. Isso é uma vergonha!

Desde 1998, dentre outras funções do BC do Brasil, a mais importante é o controle inflacionário, através do regime de metas de inflação. Para tanto, em casos de inflação em alta, o BC aplica ao mercado uma política monetária de contração da economia e eleva a Taxa Selic, tornando o crédito mais caro e, por conseguinte, reduzindo o consumo e a inflação. Porém, é uma medida impopular e com efeitos tardios: existe um hiato entre a alta de juros e a queda na inflação. Já a política monetária contracionista consiste em retirar dinheiro da economia e isto pode ser feito através do aumento dos compulsórios bancários retidos no BC, do aumento da Taxa de Redesconto aos bancos (juros cobrados pelo BC em empréstimos diários aos bancos) e da venda de títulos públicos.

Um potencial efeito do aumento da Selic seria a valorização do Real. O aumento dos juros internos atrairia mais capital estrangeiro favorecendo a entrada de dólares, o que ajuda no controle da inflação (dólar mais baixo). Porém, em virtude do cenário econômico, este fator não ocorreu.

Por último, e talvez o mais importante, com a sinalização da alta dos juros básicos, o BC demonstra que está atento e vigilante sobre o processo inflacionário, e que levará a inflação ao centro da meta num futuro breve. O que foi feito na semana passada mostra justamente o contrário, isto é, o BC e o governo sinalizam que desistiram da batalha contra a inflação. Assim, a cada dia que passa o Grande Tombini tem menos credibilidade e o mercado infere que a inflação continuará em alta, piorando ainda mais o cenário econômico.

Sempre é bom lembrar que para cada ponto percentual de elevação na Taxa básica de Juros equivale a cerca de R$ 18 bilhões de juros ao ano para os cofres públicos. Portanto, a ineficácia do Tombini está ficando cara demais. Em minha modesta opinião, o BC precisa recuperar urgentemente a credibilidade. Como? Procurando um novo Presidente.

MJR

Nenhum comentário:

Postar um comentário