quarta-feira, 20 de abril de 2016

Ponto de vista: a tímida reação do mercado financeiro ao resultado impeachment.



Muita gente esperava uma reação mais forte do mercado financeiro após a votação impeachment. Porém, a segunda-feira foi decepcionante. Uma reação singela e sem graça.

Confesso que esperava uma reação positiva num primeiro momento e logo depois um recuo (na terça, quarta ou até no mesmo dia), mas o mercado optou por muita cautela desde o início e terminou o dia numa pequena queda.

Se analisarmos o pregão de sexta passada, 15, pré-impeachment, já existiam sinais de “tranquilidade” no day after. O mercado futuro denunciava claramente: poucos contratos de hedge (proteção) e poucos investidores estrangeiros comprados no índice futuro (saldo positivo em pouco mais de 63 mil contratos). A maioria dos investidores optou pela serenidade. Sempre é bom lembrar que os investidores estrangeiros representam 51% dos investidores na Bovespa. Não existe movimento forte sem a presença dos gringos. Não temos “vida própria”. É preciso saber surfar a onda criada por eles.

E por que o dólar não despencou? Esta seria a lógica, não? A forte intervenção do Governo Federal nos últimos dias ajudou a segurar a taxa de câmbio pela excessiva oferta de “swaps cambiais reversos”, o que na prática funciona como compra de dólares, forçando a valorização momentânea da moeda estrangeira.

Outro fator que prejudicou o desempenho da bolsa brasileira na última segunda-feira foi a forte queda do petróleo no mercado internacional, em virtude do fracasso das negociações na reunião do Oriente Médio, e da forte queda generalizada das bolsas internacionais.

Ontem, terça, 19, a Bovespa subiu 1,5%, mas sem volume financeiro, basicamente pela recuperação das commodities: petróleo e minério de ferro. Os demais ativos importantes ficaram em stand by.

Posto isso, fica claro que o cenário da votação impeachment na câmara dos deputados já tinha sido precificado pelo mercado. A chance de vitória era muito alta. Nenhuma surpresa.

E agora, o que esperar do dólar e da bolsa para as próximas semanas?

Tudo indica que o impeachment vai seguir sem grandes obstáculos no Senado Federal, mesmo com a “velada procrastinação” do presidente Renan. A vitória na câmara foi esmagadora. O Governo Federal está em frangalhos e sem rumo. E a operação Lava Jato está a todo vapor. Não há outro caminho, felizmente.

Permaneço com a minha previsão para o IBOV entre 58 e 62 mil pontos ao final do processo de impeachment e nos primeiros dias do Governo Temer, o que indica ainda um potencial de valorização entre 10 e 20%.

O dólar ainda tem muito espaço para cair. O Governo não conseguirá segurar. R$ 3,20? Talvez menos. Aguardemos.

Contudo, preparem-se para as turbulências e a volatilidade do segundo semestre de 2016. Vai ser muito “pesado”: dólar em alta e bolsa em queda. Uma ressaca previsível no Brasil (volta à realidade, aos fundamentos econômicos) e também uma ressaca no exterior após anos e anos de dinheiro fácil e barato (“juros zerados”). A bolsa brasileira somente subirá de forma consistente após o ajuste fiscal, a volta da esperança dos investidores e da retomada do crescimento, quem sabe em 2017.

Mas não sejamos chatos e pessimistas. Esqueçamos o futuro.  Aproveitemos o presente e os bons momentos.

MJR

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